terça-feira, 18 de abril de 2006

Os Crimes do Mosaico


Numa noite de 1300, aos pés de um gigantesco mosaico inacabado, um homem é assassinado de maneira pavorosa. Cabe a Dante Alighieri, há poucas horas nomeado prior de Florença, a tarefa de desvendar o crime, penetrando na realidade obscura e perigosa que se esconde por baixo do mundo iluminado da capital da arte e da cultura. O autor de A Divina Comédia aparece aqui em carne e osso, poderoso, amargo e genial. Ai de quem ousar interpor-se entre ele e a verdade, mesmo que seja um enviado de Bonifácio, o papa a caminho do poder absoluto.

O autor - Giulio Leoni conta vida de Dante Aligheri, figura judicial em Florença que é chamada certa noite pela polícia municipal a uma igreja para investigar um assassínio aí encontra o corpo de um mestre arquitecto, e o princípio de um mosaico que este construía, além de uma frase incompleta deixada pelo assassinado. E assim se inicia a investigação policial que forma o livro. Uma obra interessante pela temática e o tipo de investigação que fazem recordar “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco. As descrições do ambiente são ricas, mostrando as ruas e tabernas da Florença medieval e o tratamento das personagens é muito real. Um livro bastante vivo, realista histórica e psicologicamente que encerra um segredo.

384 paginas

domingo, 16 de abril de 2006

Belém, Pará, Brasil - Mosaico de Ravena



Composição: Mosaico de Ravena

Vão destruir o ver o peso e construir um shopoping center
Vao derrubar o Palacete Pinho pra fazer um condomínio
Coitada da Cidade Velha que foi vendida pra Hollywood
Pra ser usada como um albergue num novo filme do Spielberg

Quem quiser venha ver
Mas so um de cada vez
Não queremos nossos jacarés
Tropeçando em vocês

A culpa é da mentalidade
Criada sobre a região
Por que que tanta gente teme ?
Norte não é com "M"
Nossos índios não comem ninguém
Agora é so hamburger
Por que ninguém nos leva a sério ?
Só o nosso minério ?

Quem quiser venha ver
Mas so um de cada vez
Não queremos nossos jacarés
Tropeçando em vocês

Aqui agente toma guaraná quando não tem coca-cola
Chega das coisas da terra que o que é bom vem lá de fora
Transformados até a alma sem cultura e opinião
O Nortista só queria fazer parte da nação
Ah, chega de malfeituras
Ah, chega de triste rima
Devolvam a nossa cultura
Queremos o Norte lá em cima
Porque, onde já se viu ?
Isso é Belém
Isso é Pará
Isso é Brasil


Mosaico de Ravena

A banda Mosaico de Ravena foi consagrada na década de 80 como a melhor banda de rock de Belém. Dentre tantos sucessos, impossível não lembrar de ‘Belém Pará Brasil’, uma das músicas mais regravadas por artistas paraenses e que não sai da cabeça do público, “Quem quiser venha ver, mas só um de cada vez. Não queremos nossos jacarés tropeçando em vocês...”, acima transcrita.

domingo, 9 de abril de 2006

Memórias de Minhas Putas Tristes


Primeira Obra de ficção de Gabriel García Márquez em dez anos, Memórias de Minhas Putas Tristes é uma jóia narrativa. Um conto de fadas: sentimental, implacável, sábio e irônico. Lançado mundialmente em espanhol no final de 2004, o romance já ultrapassa 1 milhão de exemplares vendidos e chega ao Brasil com tradução de Eric Nepomuceno - vencedor do prêmio Jabuti pela tradução de Viver para contar. Ao revelar a história de um velho jornalista que decide comemorar seus noventa anos com uma noite de amor com uma jovem virgem, García Márquez constrói um hino de louvor à vida e, por extensão, ao amor, já que um não existe sem o outro no imaginário do Prêmio Nobel de Literatura de 1982.


Trecho do livro "Memórias de Minhas Putas Tristes", de Gabriel García Marquez

No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei de Rosa Cabarcas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar aos seus bons clientes quando tinha alguma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza de meus princípios. Também a moral é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno, você vai ver. Era um pouco mais nova que eu, e não sabia dela fazia tantos anos que podia muito bem estar morta. Mas no primeiro toque reconheci a voz no telefone e disparei sem preâmbulos:

— É hoje.

Ela suspirou: Ai, meu sábio triste, você desaparece vinte anos e volta só para pedir o impossível. Recobrou em seguida o domínio de sua arte e me ofereceu meia dúzia de opções deleitáveis, mas com um senão: eram todas usadas. Insisti que não, que tinha de ser donzela e para aquela noite. Ela perguntou alarmada: Mas o que é que você está querendo provar a si mesmo? Nada, respondi, machucado onde mais doía, sei muito bem o que posso e o que não posso. Ela disse impassível que os sábios sabem de tudo, mas não tudo: Virgens sobrando neste mundo só os do seu signo, dos nascidos em agosto. Por que não encomendou com mais tempo? A inspiração não avisa, respondi. Mas talvez espere, disse ela, sempre mais sabichona que qualquer homem, e me pediu nem que fossem dois dias para revirar o mercado a fundo. Eu repliquei a sério que numa questão dessas, e na minha idade, cada hora é um ano. Então não tem jeito, disse ela sem o menor fiapo de dúvida, mas não importa, assim é mais emocionante, merda, deixa que eu telefono em uma hora.

Não preciso nem dizer, porque dá para reparar a léguas: sou feio, tímido e anacrônico. Mas à força de não querer ser assim consegui simular exatamente o contrário. Até o sol de hoje, em que resolvo contar como sou por minha livre e espontânea vontade, nem que seja só para alívio da minha consciência. Comecei com o telefonema insólito a Rosa Cabarcas, porque, visto de hoje, aquele foi o início de uma nova vida, e numa idade em que a maioria dos mortais está morta.
Vivo numa casa colonial na calçada de sol do parque de San Nicolás, onde passei todos os dias da minha vida sem mulher nem fortuna, onde viveram e morreram meus pais, e onde me propus morrer só, na mesma cama em que nasci e num dia que desejo longínquo e sem dor. Meu pai comprou a casa num leilão público no final do século XIX, alugou o andar de baixo para lojas de luxo de um consórcio de italianos e reservou-se este segundo andar para ser feliz com a filha de um deles, Florina de Dios Cargamantos, intérprete notável de Mozart, poliglota e garibaldina, e a mulher mais formosa e de melhor talento que jamais houve na cidade: minha mãe.
O espaço da casa é amplo e luminoso, com arcos de estuque e pisos axadrezados de mosaicos florentinos, e quatro portas envidraçadas sobre uma sacada corrida onde minha mãe sentava-se nas noites de março para cantar árias de amor com suas primas italianas. Dali se vê o parque de San Nicolás com a catedral e a estátua de Cristóvão Colombo, e mais além os armazéns do cais fluvial e o vasto horizonte do rio grande da Magdalena a vinte léguas de seu estuário. A única coisa ingrata na casa é que o sol vai mudando de janelas no transcurso do dia, e é preciso fechar todas elas para tratar de dormir a sesta na penumbra ardente. Quando fiquei sozinho, aos meus trinta e dois anos, mudei-me para a que tinha sido a alcova de meus pais, abri uma porta de passagem para a biblioteca e para viver comecei a vender o que estava sobrando, e que terminou sendo quase tudo, exceto os livros e a pianola de rolos.

Durante quarenta anos fui o domador de telegramas do El Diario de La Paz, tarefa que consistia em reconstruir e completar em prosa indígena as notícias do mundo, que agarrávamos em pleno vôo pelo espaço sideral através das ondas curtas ou do código Morse. Hoje me sustento, mal ou bem, com minha aposentadoria daquele ofício extinto; me sustento menos com a de professor de gramática castelhana e latim, quase nada com a crônica dominical que escrevi sem esmorecimento durante mais de meio século, e nada em absoluto com as resenhas de música e teatro que me publicam de favor nas muitas vezes em que intérpretes notáveis passam por aqui. Nunca fiz nada diferente de escrever, mas não tenho vocação nem virtude de narrador, ignoro por completo as leis da composição dramática, e se embarquei nessa missão é porque confio na luz do muito que li pela vida afora. Dito às claras e às secas, sou da raça sem méritos nem brilho, que não teria nada a legar aos seus sobreviventes se não fossem os fatos que me proponho a narrar do jeito que conseguir nesta memória do meu grande amor.
No dia de meus noventa anos havia recordado, como sempre, às cinco da manhã. Por ser sexta-feira, meu compromisso único era escrever a crônica que é publicada aos domingos no El Diario de La Paz. Os sintomas do amanhecer tinham sido perfeitos para não ser feliz: me doíam os ossos desde a madrugada, meu rabo ardia, e havia trovões de tormenta depois de três meses de seca. Tomei banho enquanto passava o café, bebi uma caneca adoçada com mel de abelhas e acompanhada por duas broas de farinha de mandioca, e vesti o macacão de brim de ficar em casa.

O tema da crônica daquele dia, é claro, eram os meus noventa anos. Nunca pensei na idade como se pensa numa goteira no teto que indica a quantidade de vida que vai nos restando. Era muito menino quando ouvi dizer que se uma pessoa morre os piolhos incubados no couro cabeludo escapam apavorados pelos travesseiros, para vergonha da família. Isso me impressionou tanto que tosei o coco para ir à escola, e até hoje lavo os escassos fiapos que me restam com sabão medicinal de cinza e ervas milagrosas. Quer dizer, me digo agora, que desde muito menino tive mais bem formado o sentido do pudor social que o da morte.

132 páginas;

sábado, 8 de abril de 2006

O Caçador de Pipas




Grande sucesso editorial nos Estados Unidos em 2004, onde vendeu mais de 2 milhões de cópias, O caçador de pipas conta a história de Amir, um afegão há muito imigrado para os Estados Unidos, que se vê obrigado a acertar as contas com o passado e retorna a seu país de origem. O ponto de partida do livro é a infância do protagonista, quando Cabul ainda não era a capital do país que foi invadido pela União Soviética, dominado pelos talibãs e subjugado pelos Estados Unidos.
O caçador de pipas está presente na lista dos mais vendidos pelo New York Times e Publishers Weekly há mais de um ano, com publicação em 29 países, além de venda dos direitos para o cinema, com filme a ser produzido pela DreamWorks e dirigido por Sam Mendes, de Beleza Americana.

"Eu me tornei o que sou hoje aos doze anos, em um dia nublado e gélido do inverno de 1975. Lembro do momento exato em que isso aconteceu, quando estava agachado por detrás de uma parede de barro parcialmente desmoronada, espiando o beco que ficava perto do riacho congelado. Foi há muito tempo, mas descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar(...)"

" Esta é uma daquelas histórias inesquecíveis, que permanecem na nossa memória por anos a fio. Todos os grandes temas da literatura e da vida são o material com que é tecido esse romance extraordinário: amor, honra, culpa, medo, redenção." (Isabel Allende)

Sucesso de público e crítica:

* Mais de 2 milhões de exemplares vendidos só nos EUA;
* Há mais de 1 ano na lista dos mais vendidos do New York Times e da Publishers Weekly;
* Eleito "O melhor livro do ano", pelo San Francisco Chronicle;
* Selecionado entre os "Dez melhores livros do ano", pelo Entertainment Weekly;
* Destacado como "Livro notável", pela American Library Association;
* "Um retrato tocante do Afeganistão moderno" - Entertainment Weekly;
* "Forte...Arrebatador." - The New York Times Book Review;
* "Cativante...Inesquecível." - Newsday;
* "Evocativo e autêntico" - Chicago Tribune;
* "Extraordinário." - People;


368 páginas;

Anjos

Hoje não dá
Hoje não dá
Não sei mais o que dizer
E nem o que pensar
Hoje não dá
Hoje não dá
A maldade humana agora não tem nome
Hoje não dá
Pegue duas medidas de estupidez
Junte trinta e quatro partes de mentira
Coloque tudo numa forma
Untada previamente
Com promessas não cumpridas
Adicione a seguir o ódio e a inveja
As dez colheres cheias de burrice
Mexa tudo e misture bem
E não se esqueça: antes de levar ao forno
Temperar com essência de espirito de porco,
Duas xícaras de indiferença
E um tablete e meio de preguiça
Hoje não dá
Hoje não dá
Está um dia tão bonito lá fora;
E eu quero brincar
Mas hoje não dá
Hoje não dá
Vou consertar a minha asa quebrada
E descansar
Gostaria de não saber destes crimes atrozes
É todo dia agora e o que vamos fazer?
Quero voar p’ra bem longe mas hoje não dá
Não sei o que pensar e nem o que dizer
Só nos sobrou do amor
A falta que ficou.

{Legião Urbana}