quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

De Bonner para Homer

Willian Bonner, apresentador e chefe de jornalismo do Jornal Nacional e sua equipe consideram o expectador burro, preguiçoso e sem motivações políticas. Os temas do maior telejornal do país são pautados de maneira frívola, descompromissada, preconceituosa e elitista. Matéria da revista Carta Capital, vale a pena ler!

O editor-chefe considera o obtuso pai dos Simpsons como o espectador padrão do Jornal Nacional

Perplexidade no ar. Um grupo de professores da USP está reunido em torno da mesa onde o apresentador de tevê William Bonner realiza a reunião de pauta matutina do Jornal Nacional, na quarta-feira, 23 de novembro.

Perfil.
Ele é preguiçoso, burro e passa o tempo no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja
Alguns custam a acreditar no que vêem e ouvem. A escolha dos principais assuntos a serem transmitidos para milhões de pessoas em todo o Brasil, dali a algumas horas, é feita superficialmente, quase sem discussão.

Os professores estão lá a convite da Rede Globo para conhecer um pouco do funcionamento do Jornal Nacional e algumas das instalações da empresa no Rio de Janeiro. São nove, de diferentes faculdades e foram convidados por terem dado palestras num curso de telejornalismo promovido pela emissora juntamente com a Escola de Comunicações e Artes da USP. Chegaram ao Rio no meio da manhã e do Santos Dumont uma van os levou ao Jardim Botânico.

A conversa com o apresentador, que é também editor-chefe do jornal, começa um pouco antes da reunião de pauta, ainda de pé numa ante-sala bem suprida de doces, salgados, sucos e café. E sua primeira informação viria a se tornar referência para todas as conversas seguintes. Depois de um simpático “bom-dia”, Bonner informa sobre uma pesquisa realizada pela Globo que identificou o perfil do telespectador médio do Jornal Nacional. Constatou-se que ele tem muita dificuldade para entender notícias complexas e pouca familiaridade com siglas como BNDES, por exemplo. Na redação, foi apelidado de Homer Simpson. Trata-se do simpático mas obtuso personagem dos Simpsons, uma das séries estadunidenses de maior sucesso na televisão em todo o mundo. Pai da família Simpson, Homer adora ficar no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja. É preguiçoso e tem o raciocínio lento.

A explicação inicial seria mais do que necessária. Daí para a frente o nome mais citado pelo editor-chefe do Jornal Nacional é o do senhor Simpson. “Essa o Homer não vai entender”, diz Bonner, com convicção, antes de rifar uma reportagem que, segundo ele, o telespectador brasileiro médio não compreenderia.



Pauta.
Na reunião matinal, é Bonner quem decide o que vai ou não para o ar
Mal-estar entre alguns professores. Dada a linha condutora dos trabalhos – atender ao Homer –, passa-se à reunião para discutir a pauta do dia. Na cabeceira, o editor-chefe; nas laterais, alguns jornalistas responsáveis por determinadas editorias e pela produção do jornal; e na tela instalada numa das paredes, imagens das redações de Nova York, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte, com os seus representantes. Outras cidades também suprem o JN de notícias (Pequim, Porto Alegre, Roma), mas elas não entram nessa conversa eletrônica. E, num círculo maior, ainda ao redor da mesa, os professores convidados. É a teleconferência diária, acompanhada de perto pelos visitantes.

Todos recebem, por escrito, uma breve descrição dos temas oferecidos pelas “praças” (cidades onde se produzem reportagens para o jornal) que são analisados pelo editor-chefe. Esse resumo é transmitido logo cedo para o Rio e depois, na reunião, cada editor tenta explicar e defender as ofertas, mas eles não vão muito além do que está no papel. Ninguém contraria o chefe.

A primeira reportagem oferecida pela “praça” de Nova York trata da venda de óleo para calefação a baixo custo feita por uma empresa de petróleo da Venezuela para famílias pobres do estado de Massachusetts. O resumo da “oferta” jornalística informa que a empresa venezuelana, “que tem 14 mil postos de gasolina nos Estados Unidos, separou 45 milhões de litros de combustível” para serem “vendidos em parcerias com ONGs locais a preços 40% mais baixos do que os praticados no mercado americano”. Uma notícia de impacto social e político.

O editor-chefe do Jornal Nacional apenas pergunta se os jornalistas têm a posição do governo dos Estados Unidos antes de, rapidamente, dizer que considera a notícia imprópria para o jornal. E segue em frente.

Na seqüência, entre uma imitação do presidente Lula e da fala de um argentino, passa a defender com grande empolgação uma matéria oferecida pela “praça” de Belo Horizonte. Em Contagem, um juiz estava determinando a soltura de presos por falta de condições carcerárias. A argumentação do editor-chefe é sobre o perigo de criminosos voltarem às ruas. “Esse juiz é um louco”, chega a dizer, indignado. Nenhuma palavra sobre os motivos que levaram o magistrado a tomar essa medida e, muito menos, sobre a situação dos presídios no Brasil. A defesa da matéria é em cima do medo, sentimento que se espalha pelo País e rende preciosos pontos de audiência.



Notícia.
A decisão do juiz Livingsthon Machado, de soltar presos, é considerada coisa de “louco”
Sobre a greve dos peritos do INSS, que completava um mês – matéria oferecida por São Paulo –, o comentário gira em torno dos prejuízos causados ao órgão. “Quantos segurados já poderiam ter voltado ao trabalho e, sem perícia, continuam onerando o INSS”, ouve-se. E sobre os grevistas? Nada.

De Brasília é oferecida uma reportagem sobre “a importância do superávit fiscal para reduzir a dívida pública”. Um dos visitantes, o professor Gilson Schwartz, observou como a argumentação da proponente obedecia aos cânones econômicos ortodoxos e ressaltou a falta de visões alternativas no noticiário global.

Encerrada a reunião segue-se um tour pelas áreas técnica e jornalística, com a inevitável parada em torno da bancada onde o editor-chefe senta-se diariamente ao lado da esposa para falar ao Brasil. A visita inclui a passagem diante da tela do computador em que os índices de audiência chegam em tempo real. Líder eterna, a Globo pela manhã é assediada pelo Chaves mexicano, transmitido pelo SBT. Pelo menos é o que dizem os números do Ibope.

E no almoço, antes da sobremesa, chega o espelho do Jornal Nacional daquela noite (no jargão, espelho é a previsão das reportagens a serem transmitidas, relacionadas pela ordem de entrada e com a respectiva duração). Nenhuma grande novidade. A matéria dos presos libertados pelo juiz de Contagem abriria o jornal. E o óleo barato do Chávez venezuelano foi para o limbo.

Diante de saborosas tortas e antes de seguirem para o Projac – o centro de produções de novelas, seriados e programas de auditório da Globo em Jacarepaguá – os professores continuam ouvindo inúmeras referências ao Homer. A mesa é comprida e em torno dela notam-se alguns olhares constrangidos.

Por Por Laurindo Lalo Leal Filho
Sociólogo e jornalista, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP

Fonte: http://www.portaldetonando.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=21&mode=&order=0&thold=0

sábado, 7 de janeiro de 2006

NOJO

Sete Pragas Sobre Brasília

Contra os Pestes de Lá,as Pragas de Cá:

Quando nos pratos da Justiça o carro de um ministro pesa mais que o destino de milhões;
Quando a Justiça é obrigada a largar sua espada para proteger o nariz do cheiro nauseabundo que exalam os podres poderes públicos;
Quando, para as benesses de traficantes, estelionatários, achacadores, pestilentas criaturas travestidas de autoridades públicas, milhões de brasileiros terão de contribuir com seus tostões da fome para conservar-lhes os milhões e bilhões;
Quando nem mais na Justiça se confia, nem na eqüidade, nem no justo;
Só resta ao pobre e fraco ser humano, que por destino e punição nasceu neste país e nestes tempos, em vez de gastar sola do pé para peticionar em Brasília a ouvidos moucos, rogar, como Moisés, solenes pragas, das quais nem os despachos baianos, nem os rogos das bancadas agrária, estelionatária, banqueira ou narcotraficante os livrarão:
1 - Que cada carro novo que comprarem com o que roubam de nós resulte em colisões, atropelamentos por filhos, esposas ou amásias, e, ao final, em chamas, nos livre deles;
2 - Que cada viagem aérea de recreio, quer nacional, quer internacional, que façam às nossas custas seja motivo de pavor, pânico, pane...e queda;
3 - Que até a sétima geração, paguem seus descendentes, com miséria, fome e desabrigo, a ostentação, a fartura e a opulência de que hoje usufruem às nossas custas;
4 - Que suas mãos gatunas apodreçam, suas bocas mentirosas se desdentem, seus ouvidos surdos à voz do povo ensurdeçam a qualquer voz e seus olhos que não querem enxergar nunca mais vejam;
5 - Que sequem-se-lhes poços, nascentes e rios nas propriedades; trinquem-se-lhes as piscinas; lhes morram de sede os rebanhos; pesticidas lhes poluam os genes e se lhes desidrate o corpo, ficando este tão seco quanto lhes é seca a alma;
6- Que derrames lhes roubem o inútil cérebro; a impotência física acompanhe-lhes a falta de vontade na solução dos problemas de que são causa;
7 - E que, se se livrarem das mortes praguejadas, tenham vida longa, para que não se subtraiam pela morte natural à justiça humana, sofrendo em vida, diariamente, cada uma das pragas restantes. E, ao morrerem, lhes seja negada aqui a lembrança e, no além, a presença de qualquer ser querido.

E, como o faraó, que só se livrou de pragas acrescidas deixando o Povo de Israel partir, eles só se livrarão destas e de outras adicionais, que o próprio leitor lhes pode rogar, com o arrependimento, a humildade e a honradez.
Portanto, pelo que deles sabemos, delas não se livrarão.

Primavera, 1999

O texto acima foi publicado em 1999 e, infelizmente, continua atual. Agora com mais nojo! Pragas extensivas aos partidos políticos, governos estaduais e municipais, para todas as instâncias do poder! E para todos os aproveitadores, estelionatários, ladrões, engravatados ou não, que empestam este canto do planeta.

Haja pragas!